Resoluções de ano novo costumam ser tão voláteis quanto posts de Snapchat, que duram 24 horas e depois somem sem deixar maiores vestígios. Mas 2017 foi um ano de crise, que deixou quase todo mundo com gosto ruim na alma, e estava decidido a fazer algo diferente. Externei a resolução pessoal, no primeiro post que publiquei no Facebook em 2018, de fazer uma coisa nova a cada dia deste ano, e foi assim que surgiu esta newsletter: sem grandes planejamentos, criada de sopetão e a partir de uma vontade antiga de voltar a escrever regularmente e de compartilhar as coisas mais interessantes que tenho lido, visto, ouvido por aí.
"Feito é melhor que perfeito". Você já deve ter esbarrado com esta frase em algum post motivacional de Instagram, prefácio de livro sobre empreendorismo ou mensagem de biscoito chinês. E, embora já possa soar como clichê, o fato é que esta mensagem combina bem com o modo como esta newsletter veio ao mundo: um projeto em fase beta, que irá sendo lapidado aos poucos.
Melhor que seja assim: adiei coisas demais porque queria que viessem ao mundo devidamente lapidadas, sabotadas por rompantes de perfeccionismo recheados com muita procrastinação. Chega, né? Que projetos não concretizados e prospecções que não vingam fiquem em 2017, junto com expressões como "ranço" e "embuste" e a urbe de terraplanistas, bolsominions e militantes anti-vacina que, na real, parecem ter estancado no ano de 1317.
AND NOW FOR SOMETHING COMPLETELY DIFFERENT...
Desconfie de generalizações. Por exemplo, a de que só há conteúdo inútil e imbecilizado no YouTube. Ok, se você se pautar em vídeos de gente se lambuzando de Nutella - e me refiro ao britânico Cemre Cendar, que em setembro de 2016 fez isso cinco meses antes de ser copiado no Brasil - ou, naquela que foi uma das primeiras polêmicas de 2018, citar o caso do vlogger americano que filmou um suicida enforcado no Japão e fez um vídeo explorando essa morte, terá motivos de sobra para falar mal da plataforma e compartilhar piadas pejorativas sobre youtubers.
Como quase tudo neste mundo, os exemplos negativos ganham muito mais repercussão. Por isso, quero aproveitar esta newsletter para destacar 3 bons canais brasileiros no YouTube que acompanho:
- Mimimídias: seus vídeos falam de livros, séries de TV, filmes, games e outras mídias com bom humor, mas trazendo também uma base acadêmica em suas discussões. É apresentado por um trio formado por Clara Matheus (cuja dissertação de mestrado em Estudos Literários tratou de adaptações literárias para redes sociais), Leonardo de Oliveira (designer, artista visual e cervejeiro artesanal) e Tavos Machado (professor de inglês, mestre em Literatura Inglesa e técnico de futebol americano). Seus vídeos associam "Stranger Things" a Umberto Eco, discutem se é possível separar o artista de sua obra e explicam por que seções de comentários não funcionam como espaços para trocas de ideias, além de explorarem outros assuntos como games multiplayer, "Bojack Horseman", músicas que viram memes ou a suspensão da descrença em "Game of Thrones".
- Yo Ban Boo: o cineasta Leonardo Hwan, a atriz Beatriz Diaféria e o publicitário Kiko Morente se reuniram aqui para criar um canal que discute as experiências dos brasileiros de origem asiática e a (pouca) representatividade que orientais têm na mídia, através de vídeos bem-humorados, como a série "Coisas que Asiáticos Brasileiros Sempre Ouvem", ou analisando filmes como "Corra!" e seriados como "Master of None".
- Quadro em Branco: este canal é focado em fazer interpretações de obras, em vídeos repletos de referências literárias, cinematográficas, musicais e filosóficas. Navegando pelos vídeos apresentados por Otavio Oliveira e Henrique Jacks, você vai se deparar em discussões sobre como a depressão é representada na arte, o que os raps de Frank Ocean e Drik Barbosa têm a ver com Goku, São Paulo Fashion Week e autoestima, ou como um filme tcheco aparentemente trash faz uma crítica afiada aos filmes da Disney.
Você tem mais dicas bacanas de canais no YouTube que fujam do trivial e explorem outros assuntos além de humor, tretas e maquiagem? Compartilhem comigo, por favor: inagaki2@gmail.com.
O tweet da semana, por @Mauany:
Final de ano é época de retrospectivas e também de eleger os melhores filmes, músicas, livros, etc. O Scream & Yell, site de cultura pop capitaneado pelo grande Marcelo Costa, desde 2001 pergunta a jornalistas e artistas o que de melhor rolou na música, cinema, literatura e televisão ao longo do ano. Em 2016, por exemplo, os participantes da votação apontaram "Blackstar" (David Bowie) e "Tropix" (Céu) como melhores discos, "A Chegada" e "Aquarius" como melhores filmes e a autobiografia da Rita Lee como o melhor livro daquele ano.
A votação dos melhores de 2017 começou, e eu já encaminhei meus votos. Para melhor disco, por exemplo, votei em "Letrux em Noite de Climão" (nacional) e "A Deeper Understanding" (internacional). Assim que saírem os resultados gerais postarei link aqui, mas por enquanto queria só citar aquela que foi a melhor música gringa de 2017 para mim: "Holding On" (The War on Drugs), que de quebra ganhou um clipe incrível que, creiam-me, merece ser conferido.
Ainda dá tempo de desejar Feliz Ano Todo, né? Tomo a liberdade, pois, de samplear aqui os votos feitos pela Renata Corrêa (autora de um ótimo texto sobre feminismo e amor) em seu perfil no Twitter:
"E enfim, feliz 2018 para quem não tem medo de beijar, pegar, transar, ficar amigo, virar fodinha, desvirar, romper, falar, ter dr, amar, desamar, entrar em contato, em atrito, deslizar, destravar. Um parabéns pra quem mergulha e mais coragem pra quem fica na beiradinha".
Outra mensagem massa de ano novo que encontrei por aí foi a tradicional tira de ano novo do Liniers. Bora alçar voos mais altos em 2018?
Ainda dentro da minha resolução de #tododiaalgonovo, comecei a fazer uns experimentos audiovisuais no meu Instagram. Se você tiver a curiosidade de me ver falando curiosidades sobre o Parque do Ibirapuera ou conferir a mini-entrevista que fiz com Marcelo Duarte, o cara do Guia dos Curiosos, da Panda Books e da rádio Bandeirantes, confira meus Instagram Stories dando aquele follow esperto em @popcabeca. :)
Pra finalizar bem esta primeira edição, deixo vocês com Rubem Braga:
"Vinde. Vamos tocar janeiro, vamos por fevereiro e março e abril e maio, e tudo que vier; durante o ano a gente o esquece, e se esquece; é menos mal. E às vezes, ao dobrar uma semana ou quinzena, ás vezes dá uma aragem. Dá, sim; dá, e com sombra e água fresca. E quem vo-lo diz é quem já pegou muito sol nos desertos e muito mormaço nas charnecas da existência. Coragem, a Terra está rodando; vosso mal terá cura. E se não tiver, refleti que no fim todos passam e tudo passa; o fim é um grande sossego e um imenso perdão".
P.S. 1: Perguntar não ofende: se te elegessem Presidente do Brasil, qual seria seu primeiro decreto? Mande sua resposta para inagaki2@gmail.com: na próxima edição desta newsletter, publicarei as melhores respostas.
P.S. 2: Gostou desta newsletter? Então, por favor, indique-a aos seus amigos: http://bit.ly/AssinePenseNisso. Não curtiu? Ok, mande este link para seus inimigos: http://bit.ly/AssinePenseNisso. ;)
P.S. 3: A arte do header ficou por conta da incrível Renata Maneschy, 96o lugar na lista dos jornalistas brasileiros mais premiados da história.
P.S. 4: Esta foi uma edição-piloto. Ainda estou aprendendo a configurar o Mailchimp, então feedbacks serão mais do que bem-vindos. :) Escreva-me, será um prazer receber as suas críticas e sugestões.