Não sou mulher, nem de longe tenho como sentir o imenso desgosto de uma amiga ao se deparar com mensagens clichezentas dizendo o quanto são lindas, maravilhosas, companheiras, dedicadas, guerreiras. E que, em paralelo, são tachadas de feminazis, mimizentas e mal comidas se saem às ruas, lutam por direitos e conquistas, falam de cultura do estupro, feminicídio, mansplaining, violência do assédio e outros temas que, invariavelmente, fazem com que algum incauto levante a voz para interrompê-las, bradando: "Ok, mas nem todo homem..."
"Mas então, Inagaki, o que devo fazer neste Dia Internacional da Mulher?" De boas? Creio que um bom começo seria lendo, vendo, ouvindo, respeitando e recomendando o que elas têm a dizer. Por exemplo, o que a Luciana Nepomuceno escreveu a respeito desta data.
Também recomendo a leitura deste artigo: 35 ações concretas que um homem pode fazer em vez de dar parabéns pelo Dia da Mulher. Nada contra dar rosas murchas ou bombons de caixinha, mas creio que é possível agirmos de maneiras menos pontuais e mais genuínas, não?
Uma confissão: ainda não li "Yes Please", a autobiografia escrita por Amy Poehler em 2014. Mas o livro entrou em minha lista de leituras a fazer graças a uma saborosa resenha escrita por Anna Vitória Rocha, em especial por conta deste parágrafo:
"Aprendi com Amy que carreira, trabalho e criatividade são coisas diferentes. Ela fala que a carreira é sempre como um péssimo namorado que não se importa com nossos sentimentos, não quer nos apresentar para a família e nunca perde a oportunidade de flertar com outras pessoas. Já a criatividade é como uma senhorinha de risada gostosa que adora abraçar, e é a ela que devemos servir. Porque a criatividade nos guia, nos dá alegria e nos preenche. A criatividade é algo que ninguém pode tirar de nós e ela que tem que ser o centro. Porque a carreira não está nem aí, e a gente pode fazer como ela e também dormir com outras pessoas, mas é a criatividade e nossas paixões que vão fazer essas experiências penosas de contatos, favores, sapos e sorrisos forçados valerem alguma coisa".
O audiobook do livro da Amy pode ser ouvido gratuitamente neste link (mas você precisa se registrar no site pra ganhar 30 dias de experiência na faixa). Ah, e a Anna Vitória é a responsável pelo No Recreio, uma newsletter muito massa.
O Oscar 2018 foi uma premiação que trouxe mais diversidade? Se a gente for se pautar apenas pelos apresentadores da cerimônia, acreditará que sim. Afinal, teve segmento dedicado ao movimento Time's Up, que combate o assédio sexual em Hollywood e ambientes de trabalho em geral, teve a primeira atriz transexual a participar da cerimônia (Daniela Vega, protagonista de "Uma Mulher Fantástica", filme chileno que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro) e também o primeiro negro a conquistar a estatueta de Melhor Roteiro Original (Jordan Peele, que também produziu e dirigiu o incrível "Corra!").
Porém, como bem lembrado por Luísa Pécora no site Mulher no Cinema, o Oscar 2018 acabou com gosto amargo para as mulheres. A cerimônia premiou apenas 6 mulheres, 3 a menos do que em 2017 e apenas a metade das vencedoras em 2016. E vale ressaltar ainda que, fora as categorias de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, as mulheres dividiram o Oscar com colegas homens nas outras categorias em que se sagraram vencedoras (Maquiagem, Longa de Animação, Canção Original e Curta-Metragem).
O tweet desta semana, por @ludelfuego:
Perguntar não ofende: O que faz você se apaixonar?
- Caroline Mancini: Eu me apaixono fácil. Olhou no olho e pá pum. Mas minha paixão acaba fácil também. Quando a paixão transcende o olhar, vira toque e vira risada e conversa de noite inteira, aí vai virando amor - mas é só uma olhada de novo e me apaixono mais uma vez (e tem sido assim nos últimos quase dois anos, só que sempre pela mesma pessoa - e espero que virem 10, 20, 30 anos assim).
- Paula Renata Borges: Eu me apaixono por gente que escreve bem e que cita o Carl Sagan.
- Flávia Eloá: Bom, o que faz eu me apaixonar é falar pra pessoa: Vamo? A pessoa responder: Vamo! E independente da loucura que eu queira fazer, essa pessoa ir mesmo comigo. <3
- Kelli Demolini: O Rubem Alves fala disso, ele a chama de "a cena". Pode ser um sorriso, um olhar, um cheiro, e aí você se apaixona... Eis o que ele escreveu:
"É mais fácil amar o retrato. Eu já disse que o que se ama é a ‘cena’. ‘Cena’ é um quadro belo e comovente que existe na alma antes de qualquer experiência amorosa. A busca amorosa é a busca da pessoa que, se achada, irá completar a cena. Antes de te conhecer eu já te amava.... E então, inesperadamente, nos encontramos com rosto que já conhecíamos antes de o conhecer. E somos então possuídos pela certeza absoluta de haver encontrado o que procurávamos. A cena está completa. Estamos apaixonados."
Pergunta da próxima edição: Qual música você escolheria para ser a trilha sonora principal de um filme sobre sua vida? Escreva para inagaki2@gmail.com: na próxima edição, selecionarei as respostas mais melódicas, estrepitantes, ensurdecedoras e/ou dodecafônicas.
P.S. 1: 22 de março será o dia do Food Forum, maior fórum sobre comida no Brasil, cujo assunto principal será minimalismo: 14 palestras curtas falando de temas como sustentabilidade, desperdícios, a volta do homem ao campo e o aumento de demanda por alimentos orgânicos. O evento será realizado na Casa Fasano, e os ingressos podem ser adquiridos através deste link. Em tempo: usando na compra o código AMIGOSFF18, você terá 50% de desconto no valor do ingresso.
P.S. 2: Você já conhece as ilustrações e quadrinhos feitos pela Fernanda Torquato? Comecei a acompanhá-la no finado A Vaca Voadora, e atualmente ela mantém uma página pessoal com ilustrações incríveis.
P.S. 3: Se você estiver em SP neste próximo final de semana, saiba que vão rolar as últimas festas gratuitas do Heineken Block, evento cuja programação inclui shows de As Bahias e a Cozinha Mineira, Chaiss e Rael, DJ sets de Tropkillaz e Preta Rara e a instalação do maior mural de arte colaborativa do país. As inscrições para descolar um ingresso são na faixa e devem ser feitas em https://www.heineken.com/br/block, a partir das 17 horas desta quinta, dia 8/3.
P.S. 4: Tenho em meu perfil no Spotify uma playlist intitulada "Vozes Femininas para Embalar Sonhos", na qual incluí músicas de cantoras e bandas como Regina Spektor, Mazzy Star, Mônica Salmaso, Sharon Van Etten, Fiona Apple, Mahmundi e Aimee Mann. Siga a playlist e, por favor, sinta-se à vontade para me mandar sugestões de outros sons.
P.S. 5: Não se esqueça, por favor, de ajudar a divulgar esta newsletter, encaminhando-a para os amigos e espalhando por aí o link para assiná-la: http://bit.ly/AssinePEPN. Comentários, críticas, doações descompromissadas na forma de depósitos na minha conta ou barras de ouro e replies no Twitter (@inagaki) ou Instagram (@popcabeca) são sempre bem-vindos. ;)